Empoderamento Feminino

Coragem ROSA

Por Pâm Bressan

Neste mês de outubro, comemora-se o movimento popular Outubro Rosa. (Saiba tudo sobre este movimento clicando AQUI).

Preparei algo superespecial e com muito carinho para este mês, uma entrevista com a Tati Fernandes, uma mulher guerreira e corajosa que enfrentou o câncer de mama ainda numa fase de vida cheia de sonhos e planos. Confira!

“Sou Tatiani Fernandes Teixeira, moro em Jaguaruna/SC, casada, formada em administração e professora na área. Passei 4 anos aprendendo na faculdade a importância do “Planejamento”, em seguida, na pós-graduação em Gestão Empresarial e Recursos Humanos, não foi diferente, novamente foi reforçada a importância desta “ferramenta”.

Levei isso bem a sério, e posso dizer que tinha minha vida muito bem planejada.

Descobri o câncer de mama em maio de 2014, 30 dias após perder minha tia devido ao câncer de mama. A princípio, era apenas um caroço “sem nome”, mas a palavra câncer de mama assombrava meus pensamentos. Estava em um ótimo momento da vida: trabalhando com o que gosto e planejando o primeiro filho para 2015.

Pam
Fonte da imagem: Estúdio Trevisart

 

Lembro-me de detalhes do dia que recebi a notícia da médica de que eu estava com câncer de mama, tipo agressivo, e que precisávamos fazer a cirurgia de mastectomia às pressas. Ela emendou que, em seguida da cirurgia, precisaria fazer o tratamento quimioterápico por no mínimo 6 meses. Transtornada com o diagnóstico, lembro-me que quando saímos da sala me sentia estranha, como se todos que estavam na sala de espera soubessem que eu estava com câncer, senti um pânico horrível e enquanto minha mãe e meu marido conversavam com a secretária da médica saí correndo dali para que aquelas pessoas estranhas não me vissem chorando, nem esperei elevador e fui descendo as escadas. A cada degrau descido o desespero era maior e quando senti a mão do meu marido em meu ombro, o abracei e chorei. Como estávamos em uma escadaria

dava um eco muito grande e quanto mais eu ouvia meu choro mais eu chorava, pois pensava que tinha recebido naquele momento minha sentença de morte.

Aquele dia, sem dúvidas, foi um divisor de águas em minha vida. Eu me sentia traída por meu próprio destino, ecoava em minha cabeça muitas perguntas, e todos aqueles planos que eu tinha para minha vida? E o meu trabalho? E o meu futuro? E os meus sonhos?

Tudo foi feito como a médica havia dito, às pressas: cirurgia de retirada da mama, reconstrução imediata com silicone e dias depois foi dado início a tão temida quimioterapia. Após 18 dias da primeira sessão veio a experiência de ver os cabelos descolando do coro cabeludo. Não há como negar que principalmente para nós mulheres é muito doloroso se ver tão diferente de uma hora para a outra, é neste período que percebemos aos olhos de quem nos ama que nossa beleza não se resume em nossa aparência. Deixar a peteca cair e estar com a autoestima em baixa não colaboraria em nada no tratamento, pelo contrário, e por estar ciente disto e desejar superar a tudo isto, fiz minha parte.

Eu sabia que não seria fácil o período do tratamento, mas precisava ser forte e mostrar para mim mesma que eu conseguiria. Além disso, há as pessoas que você ama! Você precisa fazer isso por elas e passar a maior força possível para que sofram o mínimo possível com você. Quando você luta contra um câncer e resolve compartilhar sua luta com outras pessoas é comum que outras mulheres acometidas com o mesmo tipo de câncer que você lhe procurem para pedir dicas, informações e força. Para essas novas amizades eu também queria provar que era possível superar essa fase. Fiz muitas amizades preciosas neste sentido, infelizmente, algumas perdi para a doença.

Eu sabia que não era possível ser forte sempre, então quando precisava parava um pouco para respirar, chorar se preciso, e depois voltava à luta com força total. Este foi um período de descobertas, muitas boas e outras nem tanto, mas entre as descobertas boas, tenho que admitir que nunca me senti tão querida pelas pessoas. Foi uma sensação maravilhosa saber que tantas delas me incluíam em suas orações.

Nunca estamos preparados para o pior, sempre achamos que tudo acontece com os outros, mas com a gente nunca. Estar acometida com câncer é uma “variável” que

ninguém utiliza na hora de “planejar” seu futuro, eu não fui diferente, e fui pega de surpresa.

Ao fim do tratamento quimioterápico iniciei o uso de uma medicação diária que não permite a realização de um de meus planos de vida “ser mãe”, fui informada que faria uso desta medicação por 5 anos. Ok, passado o imprevisto me reprogramei, e novamente meu futuro estava planejado, além disso, esses 5 anos seria tempo suficiente para realizar outros planos.

Novamente sou surpreendida com uma variável que não levei em conta, o oncologista me alerta que há grandes possibilidades de meu tratamento ser estendido para 10 anos.

Tenho que confessar que foi um momento muito triste, e cheguei a duvidar se realmente há a possibilidade/necessidade/utilidade de planejar minha própria vida. Ouvi em minha vida acadêmica inteira que é preciso planejar e descobri que na prática não é tão fácil.

Cheguei a conclusão de que, por se tratar do FUTURO, algo que não temos controle, mais importante do que planejar é ser resiliente. Algo que também não é nada fácil, mas de suma importância para continuarmos a vida em busca da realização de nossos sonhos, apesar dessa busca precisar de mudanças em sua execução.

A variável que me pegou se surpresa foi um câncer, mas para o planejamento de vida de outras pessoas essa barreira pode surgir em forma de outros tipos de problemas, não apenas de saúde, mas de finanças, de relacionamentos. Ninguém está livre de sofrer com um imprevisto e é preciso ter isto em mente. Isto não significa se tornar alguém pessimista (lembre-se que alguém pessimista é muito chato e sem sucesso). mas, sim, se tornar alguém que apesar dos pesares supera, se adapta a nova realidade e faz novos “planos”, tem o poder da “resiliência”.

Tati, que lições tirou desta passagem na sua vida?

Foram muitas as lições. Poderia destacar:

  • A descoberta do que realmente é importante; na nossa correria, na busca pelo “sucesso” e da felicidade, muitas vezes focamos apenas no “alcançar ou não alcançar”. Mas, o importante mesmo, creio eu, é a trajetória, o caminho que percorremos nessas buscas. Nossa vida vai se resumir em como foi nossa caminhada e não em nossas conquistas. Tenho muitos sonhos, mas, hoje, me preocupo em buscá-los da forma mais feliz possível. Se realizá-los será uma consequência.
  • Por um tempo eu me perguntei: “Mas, por que eu?”, e depois, refletindo, me toquei que não sou melhor que ninguém, e aí passei a me perguntar “ e por que não eu?”.
  • O real valor das pequenas coisas.
  • A importância das pessoas que amamos e nos amam.
  • O quão bom é trabalhar! (Fiquei 6 meses em casa impossibilitada).
  • Entre outras infinitas coisas, o quão maravilhoso é Deus.

E o que você diz para pessoas que se encontram desmotivadas a viver?

  • Se você quer exemplos de motivação tão intensos para viver, que chegam a ser contagiantes, vá a um centro oncológico do hospital de sua cidade. Converse com os pacientes acometidos pelo câncer, ali sentados ou deitados, fazendo a quimioterapia. A grande maioria tem uma força e uma vontade de viver tão grande, que tudo mais fica pequeno diante da fé que transmitem nos olhos, tendo a certeza de que superarão aquela fase.

 

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