Empoderamento Feminino

Empreendedorismo e procrastinação – Parte II

Procrastinação não combina com empreendedorismo. Veja como lidar com isso e mudar sua atitude.

Fonte da imagem: supremas.com.br

Como vimos no artigo anterior, procrastinar, ou “deixar para um amanhã, que nunca chega, o que deveria ser feito hoje”, é algo normal e que todo mundo faz, por um motivo ou outro – mas até certo limite. Se esse comportamento chega a atrapalhar a vida a ponto de dificultar que a pessoa atinja suas metas ou o desenvolvimento do seu negócio, é necessário tomar uma atitude e lidar com isso. A abordagem mais eficiente para lidar com a procrastinação deve seguir duas linhas paralelas:

  • Focar nos aspectos emocionais.
  • Focar nos aspectos práticos.

Em nosso artigo de hoje, comentaremos sobre o primeiro tópico:

Focando nos aspectos emocionais

O psicólogo americano Albert Ellis desenvolveu uma teoria amplamente utilizada para lidar com emoções, chamada de Modelo ABC. O conceito fundamental é que “não são os acontecimentos que nos perturbam, mas a nossa interpretação dos acontecimentos”. O modelo é o seguinte:

A – Ativador – um evento, acontecimento, ou mesmo um pensamento ou uma imagem. Pode ser um acontecimento passado, presente ou futuro. Exemplos: ter que preparar uma apresentação, fazer uma entrevista, ligar para um cliente.

C – Consequências – são as emoções geradas pelo “ativador” (“A”) acima: a pessoa fica ansiosa, irritada, com medo, raiva, vergonha. Muitas vezes, nada aconteceu de fato, foi só um pensamento que passou pela sua cabeça, mas as emoções são ativadas com tal intensidade que acabam criando uma tempestade em copo d’água.  São essas emoções negativas que atrapalham a produtividade e o sucesso do seu negócio. No caso da procrastinação: a ação é “deixar para amanhã” e se ocupar com outra tarefa (normalmente mais prazerosa) agora.

O grande pulo do gato do modelo ABC é o “B”, em inglês, “beliefs” ou “crenças”: entre o Ativador “A” e a Consequência “C” há um Belief “B”, uma crença, que está embutida no processo e que muitas vezes nem chega à consciência. Essa crença pode ser racional/funcional ou irracional/disfuncional. Quando racionais (ou funcionais), não provocam emoções negativas tão tempestuosas. Mas quando irracionais (ou disfuncionais) acabam atrapalhando a pessoa – e qualquer pessoa normal tem várias delas, em menor ou maior grau, com maior ou menor frequência. Alguns tipos de crenças irracionais ou disfuncionais comuns são: generalizações, rotulações, pensamento de tudo ou nada ou sempre/nunca, viés seletivo na análise de dados.

Por exemplo, para a pessoa que procrastina, crenças irracionais típicas podem ser: “se minha apresentação não for perfeita, serei um fracasso (auto-rotulação)”, ou “se a entrevista não for bem, nunca conseguirei um novo emprego (generalização, pensamento sempre/nunca)”. Um dos grandes problemas desse tipo de crença é que elas são tão automáticas que as tomamos como verdades absolutas, ao invés de questioná-las. Como disse, muitas vezes elas estão ali, entre um “ativador” e uma “consequência”, mas nem ao menos prestamos atenção na sua existência.

Porém, a boa notícia é que quando questionadas não resistem, não se sustentam por muito tempo. Com poucas perguntas que podem ser feitas a si mesmo, a fragilidade da crença já fica aparente e a consequência é que aquela emoção que parecia intransponível fica mais fácil de lidar. No caso da apresentação, as perguntas podem ser: a apresentação precisa necessariamente ser perfeita? Você já assistiu a alguma apresentação que não foi perfeita, mas que gostou muito, foi produtiva, foi interessante? Se a apresentação não for perfeita, isso significa que você não sabe nada desse assunto? Significa que você é realmente um fracasso? Ser um fracasso significa que você nunca produziu ou vai produzir algo de útil na vida, é esse o caso? No caso da entrevista: mesmo que você não vá bem, significa que nunca terá uma nova oportunidade? Significa que você não possa ter um resultado melhor nessa outra? Você já passou por alguma boa entrevista na sua vida? Provavelmente sim, mas provavelmente não em todas, é assim mesmo.

Experimente esse exercício: a próxima vez que estiver sob alguma emoção negativa ou não produtiva muito forte (especialmente: irritação, raiva, desânimo), anote. Esse é o “C” inicial. Daí, anote qual foi o “A”, o que aconteceu ou o que você pensou que te levou a essa emoção. E por fim, tente descobrir qual foi o “B” – que crença está por trás dessa emoção e dos pensamentos e ações ligados a ela? Depois, questione-a! Faz sentido? Se não – e provavelmente não irá fazer! – tente substituir por um pensamento mais produtivo, que acalma as emoções negativas e deixa o processo todo mais simples e mais fácil.

Daí é partir para o passo seguinte: focar nos aspectos práticos, partir para a ação. Mas este nós comentaremos em meu próximo artigo. Até breve!

Cristiane Piza é economista pela UFRJ e MBA em Finanças pela Columbia Business School e atua na área de Financiamentos Estruturados de um banco internacional. Possui vasta experiência em M&A, tendo atuado em diversas operações pelo ABN AMRO Bank em Nova Iorque e Idea Capital em São Paulo e também em private equity pelo Bioenergy Development Fund. É diretora e co-fundadora do Chapter Brasil do 85 Broads, grupo global para fortalecimento do networking entre mulheres executivas com 30.000 participantes no mundo. É Executive Coach e Life Coach formada pelo Integrated Coaching Institute em curso credenciado pelo International Coaching Federation.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Nenhum comentário “Empreendedorismo e procrastinação – Parte II”