Empoderamento Feminino

Para onde você vai?

Era uma quarta-feira típica de outono em São Paulo. Embora o sol nos desse o ar de sua graça no céu, não fazia calor. Mas, apesar do friozinho, a tarde era bonita e o clima ameno combinava com o ar quase melancólico da entrada do IOT – Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, onde fomos visitar Eliana Zagui e Paulo Henrique Machado, moradores da UTI de lá.

Fonte de Imagem: Google

Vítimas de uma poliomielite muito forte, que quase os matou, Paulo e Eliana vivem sob os cuidados hospitalares e de um respirador artificial. Chegaram ao Hospital das Clínicas quando tinham apenas dois anos de idade e de lá não saíram mais –exceto por algumas passagens curtas que tiveram fora do leito do hospital. São cerca de 40 anos sob o teto da UTI do HC. Longe de almejarem ser exemplos de vida e superação, os dois sobreviventes da UTI do HC encontram força para acordar a cada dia e produzirem ações que os alimentem de estímulos para, de alguma forma, viver bem.

Fã do maior ídolo brasileiro da Fórmula 1, Paulo teve a honra de conhecer Senna. Conseguiu o mérito ao saber que certo médico do IOT também atendia aos pilotos do campeonato automobilístico. Não pensou duas vezes ao escrever uma carta e pedir para que entregasse ao piloto. Ao ter acesso ao conteúdo, Senna resolveu ir até a UTI conhecer Paulo e os outros pacientes e fãs. Eliana, por sua vez, é  fã há muito tempo do cantor Fábio Junior. Certo dia acabou conhecendo um parente do artista que havia sofrido um acidente e estava hospitalizado no HC. Do contato para o encontro com o ídolo foi uma questão de tempo. A emoção foi tamanha ao sentir o cantor, ali, pertinho de seu rosto.

Moradores de um hospital, os dois amigos se apegam um ao outro. Tiveram muitas vezes de conviver com a solidão, mas também tiveram o privilégio de encontrar carinho de onde menos de se esperava: médicos, enfermeiros, religiosos, visitantes, desconhecidos e até de famosos… Mas o mais importante é que ainda sonham em sair do hospital. Isso continua mais vivo que nunca.

Quando sair, Paulo quer conhecer a Times Square, em Nova Iorque. Eliana ainda quer se aventurar por todo o sul do Brasil. Penso que há muitas pessoas, longe das amarras de uma vida hospitalizada, que não sabem para onde ir e o que fazer. E não sabem porque, simplesmente, deixaram de correr atrás dos sonhos. Ainda bem que essa paralisia, a única capaz de estagnar o ser humano, não faz parte dessa dupla, tampouco de mim mesma. Espero que também não faça parte da sua!

Mara Gabrilli, publicitária, psicóloga e deputada Federal por São Paulo.
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